Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...
Caio Fernando Abreu
Eu mesma não saberia me descrever melhor.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Sobre um cara.
Jogou o cigarro na grama. O copo vazio também. Foi quando ele se aproximou, já sabendo meu nome. "Marjorie! Marjorie" - repetia simulando um sotaque francês. Figura simpática. Falou-me seu nome, mas sabia que assim que o dia se transformasse em outro, esqueceria. Era um nome simples. Ele era - ou parecia ser - uma pessoa simples. Já não trazia mais em seu rosto o frescor da juventude, mas se os olhos são as janelas da alma como dizem, aquele par de olhos embriagados não chegava a ter vinte anos. Falava comigo em inglês. Trazia em suas mãos algo colorido, fogos de artifício. Já sei, vou chamá-lo carinhosamente de "Firework". Serelepe. Pronunciava muito bem as palavras. Na verdade nem sei porque estávamos falando em outra língua. Efeito do álcool. Foram só alguns minutos, mas poderia ficar conversando ali com ele por horas e horas a fio. E tenho certeza de que Firework já havia viajado por vários lugares. Se não, onde teria adquirido o sotaque? Haveria de me contar suas histórias, talvez. Despediu-se dizendo algo como "get some mary jane". Como eu disse, serelepe. Fui pegar aquela que seria a última cerveja da noite, quando me deparei com fogos de artifício em meio às árvores. Era Firework, brincando com o que trazia em mãos enquanto conversava comigo. Mas tu não tinhas me dito que estava estragado? Talvez nem ele soubesse direito. Continuei meu caminho até o bar pensando que todo domingo deveria ser como aquele...
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Touché.
Passou. Passou como o outono que o trouxe e como o inverno que o manteve. Floresceu algo de efêmero na primavera que veio por fenecer no verão. Efêmero como só os mentirosos conseguem ser, conseguem mentir com os olhos; confundir. Pessoas vazias cujas palavras soam premeditadas, falsas. Cujos atos não visavam nada além de um objetivo muito bem planejado e executado no final. Pessoas que "olham" as outras como se fossem peças de um jogo de xadrez, cartas de baralho, seja lá o que for. Pessoas que não vivem, atuam. Fingem ser. Só pra conseguir o que querem. Pessoas de plástico, cujos olhos são feitos de vidro. Bonecos. Mais nada.
Porque não adianta mais ser cortês depois que já se conseguiu tudo o que quis, não é mesmo?
Porque não adianta mais ser cortês depois que já se conseguiu tudo o que quis, não é mesmo?
sábado, 11 de dezembro de 2010
"E o que você fez?"
Mudanças bruscas. Isso pode resumir o meu ano muito bem. Nunca gostei muito dessa história de resoluções de ano novo e todo esse blábláblá, mas é inevitável não parar pra refletir. E olha, fazendo um balanço, posso dizer que eu só ganhei. Ganhei maturidade, ganhei força, ganhei independência, ganhei amigos (principalmente amigos). No final do outro foram contabilizadas perdas, perdas das mais significativas. Perdas que moldaram o que eu sou hoje e que, sem dúvida, me fizeram e estão fazendo a pessoa que eu sou. Muita coisa mudou em um ano. Nós mudamos. Passa tão depressa que eu nem consigo me lembrar o quão perdida eu fiquei depois que ela se foi. O quão pesado seria o fardo que eu teria que carregar pro resto da minha vida. Mas depois de passada a "tempestade", tu começa a perceber que o mundo continua colorido como sempre foi. E eu tive os braços mais fortes pra me segurar enquanto eu caí. Aprendi tanto. E ainda tô aprendendo. Porém a epifania mais valiosa e que a maioria das pessoas da minha idade ainda não compreendem é que agora eu entendo meus pais. O lugar que eles ocupam, o zelo e o amor que eles têm pela gente (mesmo que muitas vezes não demonstrem). Cada recusa, cada bronca, o celular que toca no meio da festa pra perguntar se a gente vai demorar. O quanto eles abrem mão das coisas por nós. O quão guerreiros eles são e o quanto a gente significa pra eles. Pode parecer pieguice, mas foi o que eu falei pra uma pessoa essa semana: "tu só vai entender quando for pai". E é verdade. Compreendo agora porque assumi uma responsabilidade que não era minha. Nem precisava. Mas a família não é a coisa mais importante do mundo? Claro que é. Assim como a amizade. Assim como as pessoas que eu encontrei "pelo caminho". É engraçado como aprendi a dar o verdadeiro valor a cada uma delas, individualmente. Mesmo as mais distantes. O quanto aprendi a suportar, respirar fundo. Me respeitar. Aprendi que às vezes a gente deve deixar o julgamento das pessoas pra lá; elas não sabem sobre o que a gente já passou e há coisas mais importantes. Aprendi a cuidar de quem eu amo e a DIZER o quanto eles são importantes. Aprendi a suportar. A mudar o que não me agrada. E continuo. A vida continua. E pensar que existem pessoas que ficam à espera de algo que possa torná-las melhor. Abracei com coragem aquilo que me foi imposto. Talvez seja isso que me manteve firme, não sei. Se eu pudesse desejar alguma coisa pra alguém seria isso: MUDANÇA. Em um ano muita coisa pode mudar. E que venha 2011.
Não foi incrível, mas foi sincero.
Não foi incrível, mas foi sincero.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Mais uma bizarrice cotidiana.
Ironia do destino. Sincronicidade. Infeliz coincidência. Passei o resto do dia tentando achar um nome ou melhor, uma denominação sobre um "caso" que me foi arremessado no início da tarde. Acertou bem na boca do meu estômago. Foi um misto de ficar sem ação com criança pega no pulo quando faz besteira. Eu simplesmente não entendi nada até agora. Quis rir. De desespero eu acho. Não, também não é desespero. Foi um incômodo que ficou. Esperaria qualquer reação, qualquer uma. Não reagiu. Não reagi. Fingiu-se uma compreensão estranha. Estavam quites. Mais uma vez o acaso pregou uma peça infalível; fez-se uma piada dos dois. Piada essa que ninguém riu. Se riu foi de desespero. Não quis aquela sinceridade. "Ainda és tu". Claro que sim. Ainda sou eu, por que não seria? Por que diabos não seria? Pareceu querer me libertar de algo ruim. Mais risos. Foi de nervoso? Jura que não incomodou nem um pouco? Bom, claro que não. Por que incomodaria? Afinal, sou bicho solto. És também. Estamos ambos em pé de igualdade. Pra mim teve gosto de "coisa errada". Pra ti nem tanto, afinal "não vales nada". História sem pé nem cabeça essa. Por que as pessoas têm que "mexer" no passado umas das outras? Por que elas chamam algumas pessoas de amigo e no outro dia, de repente, estão à caça das pessoas que outrora foram dos supostos "amigos"? POR QUE? Por que elas acham que isso não machuca? Por que desrespeitar? Por que elas acham que podem fazer as coisas e depois ninguém ficar sabendo? Pra depois ter que ficar escondendo? Tá ok, eu não queria que soubesse. Não por pretensão de repetir o ato falho, mas porque talvez te "magoasse" se descobrisse. Talvez aí esteja a diferença. Não são justificativas. Não é um pedido de desculpas. Não fizemos nada errado. Não estamos fazendo nada de errado. Você reagiu? Eu reagi.
Fez-se um nó gigante nos pensamentos. O sono há de desatar.
Fez-se um nó gigante nos pensamentos. O sono há de desatar.
domingo, 28 de novembro de 2010
"É difícil aprisionar os que têm asas."
Existe um verme pequenino que mora dentro de cada um de nós. Cada um tem o seu e o denomina de acordo com aquilo que menos gosta em si ou com o que mais incomoda. O meu deve se chamar "insatisfaçãovontadedejogartudoproaltoesairpelomundo". Eu tenho essa mania de quando as coisas não dão certo querer correr, voar, sei lá. Vontade essa que demora a passar. Descobri nesse ano cheio de readaptações e descobertas, que eu adoro viajar. Porque a estrada, além de ser um lugar fascinante, me acalma. Só ali, naquele curto (às vezes nem tanto) espaço de tempo eu consigo colocar algumas coisas em ordem e ter a sensação verdadeira de que de um lado eu deixo o que não quero pra trás, e de outro, vai ter alguém em algum lugar esperando pela minha chegada ou pelo meu retorno. É mágico. É sentir-se livre de verdade. Isso sem falar das pessoas que tu encontra pelo caminho, todas elas fascinantes! Com aqueles sotaques, costumes, histórias pra contar... Ultimamente a estrada tem sido solitária. Não que isso seja ruim, não é. Só que às vezes parece que não há "um porto", um lugar em que se possa atracar. Por isso o nome do verme é insatisfação. "Insatisfação crônica" como diria o mestre Woody Allen. Nociva, muitas vezes. Por isso a necessidade de pular de galho em galho à procura de algo que pode nem existir. Mas a busca, ah, essa é sempre fascinante. E chegar em algum lugar novo, sem saber o que encontrar, sem conhecer as ruas, os rostos, sem ninguém te conhecer é libertador. A necessidade de voos maiores está aumentando. E uma vez nascidas as asas, fica difícil querer desperdiçar o "dom de voar" dentro de uma gaiola. Hoje eu acordei com essa vontade. As asinhas cresceram. E deve ser esse o tal gosto daquilo que chamam de "liberdade".
Talvez esse tempo todo, o vagalume que voa pra lá e pra cá fosse eu.
"Easy like a sunday morning."
Talvez esse tempo todo, o vagalume que voa pra lá e pra cá fosse eu.
"Easy like a sunday morning."
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Queijo e Goiabada.
Cada vez que eu leio me parece diferente. E essa passagem é uma das minhas preferidas.
JULIETA Romeu?
ROMEU Minha querida!
JULIETA A que horas devo mandar alguém encontrá-lo, amanhã?
ROMEU Às nove.
JULIETA Um século até lá... Mas esqueci o que tinha a dizer.
ROMEU Eu espero aqui até você lembrar.
JULIETA Vou esquecer pra você ficar aí, só me recordando de como é bom a sua companhia.
ROMEU E eu vou ficando para que você se esqueça, enquanto esqueço todos os lugares além daqui.
JULIETA É quase dia. Você deve ir, porém não mais longe do que um passarinho de brinquedo de uma menina, que ela finge soltar, mas logo traz de volta ao ninho da mão, puxando-o por um fio de seda, tão ciumenta ela é de sua liberdade...
ROMEU Se eu fosse esse passarinho...
JULIETA Mas eu o mataria de tantos carinhos! Boa noite. A despedida é uma dor tão doce...
ROMEU Que o sono venha aos seus olhos, e a paz ao seu peito! Queria ser esse dois!... Agora, vou procurar meu conselheiro espiritual, pois meu destino precisa de um bom guia.
Boa noite, pirilampos.
JULIETA Romeu?
ROMEU Minha querida!
JULIETA A que horas devo mandar alguém encontrá-lo, amanhã?
ROMEU Às nove.
JULIETA Um século até lá... Mas esqueci o que tinha a dizer.
ROMEU Eu espero aqui até você lembrar.
JULIETA Vou esquecer pra você ficar aí, só me recordando de como é bom a sua companhia.
ROMEU E eu vou ficando para que você se esqueça, enquanto esqueço todos os lugares além daqui.
JULIETA É quase dia. Você deve ir, porém não mais longe do que um passarinho de brinquedo de uma menina, que ela finge soltar, mas logo traz de volta ao ninho da mão, puxando-o por um fio de seda, tão ciumenta ela é de sua liberdade...
ROMEU Se eu fosse esse passarinho...
JULIETA Mas eu o mataria de tantos carinhos! Boa noite. A despedida é uma dor tão doce...
ROMEU Que o sono venha aos seus olhos, e a paz ao seu peito! Queria ser esse dois!... Agora, vou procurar meu conselheiro espiritual, pois meu destino precisa de um bom guia.
Boa noite, pirilampos.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Estrela ou vagalume?
Fazer uma força descomunal pra mover algum tipo de atmosfera imutável a meu favor. Ou melhor: tentar fazer o possível pra ter uma parcela de algo que nunca será pertencente à. Nunca? Vejamos... Tentar correr e atravessar os dias pra tentar agarrar ou sei lá, "guardar" uma parte daqueles que sempre foram "infinitos variáveis". Alguns até esperas, alguns até tropeços. É como areia fina que escapa entre os dedos: fica presa por alguns segundos e se esvai. É fugaz, efêmero, tempo contado. Antes não era, já que não havia o debruçar sobre a janela esperando o dia correr pra que chegue mais perto. Proximidade relativa, essa. Pode-se correr, correr e sempre estará inalcansável. Toda a velocidade que puder ter é inútil pra tentar alcançar um ser alado. É cometa, é estrela, um planeta em alguma galáxia perdida. Qualquer coisa que possa dizer que... Não se sabe mais. Quando já se quer mais do que se pode ter...
Porque há aqueles vagalumes raros que queríamos aprisionar num pote de vidro.
Às vezes é preciso admitir. E só.
Porque há aqueles vagalumes raros que queríamos aprisionar num pote de vidro.
Às vezes é preciso admitir. E só.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Bukowskiando
Sabia que Charles seria excelente companhia para esta madrugada. Ah, a madrugada! Tão sedutora com suas esquinas e fumaças e sarjetas. E mulheres, claro. Charles adorava falar de suas mulheres. "Suas". Contou-me antes sobre uma tal ruiva, escreveu-lhe um poema. E depois contou-me de outra. Bebeu. Falou-me de suas carências e esperas. - Não bebe, querida? - perguntou-me gentilmente. - Fale-me mais sobre você, disse. E me falou de uma certa ave azul, de suas esperas. De sua ode à boemia. Como podia ser tão genuíno? E de repente me identifiquei com algumas passagens daqueles contos. Não tão escancarado, é verdade. Mas de como aquilo mascarava algo maior ou não. Talvez "só a vontade de viver até a última gota"...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Talvez essa que passou tenha sido a semana mais turbulenta e deliciosa do ano. Sem muito tempo pra nada, porém muito gratificante. Trouxe dias com gostinho de brigadeiro e terminou com gosto de angústia, sabe? Uma frase só manchou TODO o estado de espírito antes leve e o transformou em nuvem pesada e carregada. E aí choveu. E aí bebeu. E se perdeu dentro de si de novo. Não quis voltar pra casa. "Pra casa". A casa a qual me refiro sou eu mesma, meu "lar interno" com aquele meu lado negro auto-destrutivo que tem raiva de tudo e que quer ferir alguém só pelo simples fato de estar doída também. Aí qualquer distração vale pra não ter que escutar a própria voz martelando uma preocupação insistente e nem tão real assim (será?) dentro da cabeça. Eu poderia usar de todas as metáforas, subterfúgios, figuras de linguagem pra descrever coisas que se tornaram claras há tempo. Mas é tão simples que seria redundante e ridículo fazer tal coisa. Ainda mais pelo tanto de palavras e coisas que outrora foram ditas/feitas. Queria ser covarde e recuar, entende? E não, eu não vou me aprofundar nesse assunto. É só que antes não me importava com esses silêncios. Antes não me importava. Um antes que agora parece meio distante. Porque havia outras coisas, sabe? Agora sobram muitos espaços vazios. Meu "lar interno" tem muitos cômodos vagos e pra ser bem sincera, às vezes, eu só quero fugir de casa. O lado bom de ser um projeto de super-heroína para os outros é ter a liberdade de poder voar pra onde quiser. Mas a um preço muito, mas muito alto. Talvez eu só precise mesmo dormir.
Boa noite, vagalumes.
Boa noite, vagalumes.
domingo, 7 de novembro de 2010
Girls talking.
Conversavam sobre coisas aleatórias naquele final de domingo. Como todas as conversas que tinham, aproximavam-se cada vez mais; tinha a impressão de que já se conheciam há anos. Risadas, amores, desamores, fama de mau. Surge a raiva e uma nova pauta: o desapego. Desapegar de uma quase história, um quase futuro ou algo que nem chegou a ser escrito. Foi só fantasiado em algum outro universo paralelo. De um lado a raiva oriunda de um ciúme auto-destrutivo. De outro, uma espera que ainda se esticaria por mais alguns dias. Situações parecidas e diferentes. Sentimentos semelhantes. Pessoas semelhantes. "Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra." É isso. Nasce uma amizade. E o desapego, será mesmo uma opção? Não pra ela que ainda espera. E de repente, o celular chama urgente. Melhor esperar e deixar pra lá.
Bom início de semana, pirilampos.
Bom início de semana, pirilampos.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Se ocorre aquela ausência mesmo que por alguns instantes, vem a vontade súbita de jogar tudo pro alto; de não mais esperar nada, de não querer alimentar expectativas. Existe uma fina muralha denominada auto-defesa e nos apoiamos ali junto a jogos ambíguos, piadas e metáforas. Ali é seguro, é onde deveríamos ficar. Onde EU deveria ficar. Santa ingenuidade! Caímos (ou fui somente eu?) em uma armadilha muito bem bolada. Esteve ali o tempo todo, como um predador pronto pra atacar a presa ou, nesse caso, as presas tão vulneráveis e tolas. É ridículo que tudo que tenha vindo ou que esteja vindo de "vivo" seja vinculado a essa condição. Condição que eu nem sei se existe ou se é fantasiosa. Deve ser fantasiosa. As pessoas nada mais são do que a ideia que fazemos delas. E onde isso tudo vai parar? Melhor nem pensar. Depois vemos se pulamos do barco ou se afundamos com ele. Ou se ele continuará navegando. (Isso se entraste também nesse mesmo barco). Barco furado? Só saberemos quando um dos passageiros percorrer mais ou menos 200 quilômetros e descobrir por si só se vale a pena salvar a embarcação e continuar viagem rumo ao mar ou se seremos apenas dois náufragos à deriva...
Ao som de Iron and Wine. Calmante. Bom final de semana, pirilampos.
Ao som de Iron and Wine. Calmante. Bom final de semana, pirilampos.
Quietude.
“Silêncio é uma palavra de prata.” Uma amiga escreveu há pouco. Pode ser de prata, mas vale ouro. Silêncio é diamante: não pode ser quebrado; há que ser lapidado a fim de encontrar a joia perfeita no qual se encaixe delicadamente. Silêncio é um estado de espírito. É preciso aprender a saboreá-lo, sem medo. Estar em silêncio nada mais é que se ouvir, que estar em contato com o que os demais não “ouvem”, é uma melodia sutil. Silêncio faz barulho? O meu faz: meu coração, minha respiração, o vento que faz a janela bater, a chuva fina no telhado. Preciso ficar quietinha pra me ouvir. Ouvir só os meus pensamentos sem medo ou pudor algum. Me sentir. O que será que eu mesma quero dizer pra mim? Não sei. Shhhh, silêncio!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
O "texto" de hoje não é meu. Ele é um fragmento de um livro chamado "A filha do canibal" da espanhola Rosa Montero. Esse pequeno trecho aparece na crônica "Diferença de Necessidades" da autora gaúcha Martha Medeiros. Reli essa crônica hoje e me fez pensar...
"Procedíamos de galáxias diferentes, como dois cometas que se cruzam efemeramente no espaço. [...] Quanto mais ele me exigia, mais me sentia asfixiada; e, quanto mais me regateava, mais ansiosamente ele queria me segurar. Dito isso, se ele se retirava, eu avançava, e então o perseguia e o exigia: porque o amor é um jogo perverso de vasos comunicantes."
Ainda dá tempo de puxar o freio de mão? Boa noite, pirilampos.
"Procedíamos de galáxias diferentes, como dois cometas que se cruzam efemeramente no espaço. [...] Quanto mais ele me exigia, mais me sentia asfixiada; e, quanto mais me regateava, mais ansiosamente ele queria me segurar. Dito isso, se ele se retirava, eu avançava, e então o perseguia e o exigia: porque o amor é um jogo perverso de vasos comunicantes."
Ainda dá tempo de puxar o freio de mão? Boa noite, pirilampos.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Pontos de luz
O quão sublime é encontrar mundos tão diferentes do seu, não é mesmo? Que de tão diferentes chegam a ser iguais pelas vidas nele inseridas. Já reparou? São mundos que talvez nunca alcancemos, são pontos brilhantes de um céu estrelado. Perto ou longe, estão ali (lá). São mundos que me fazem pensar em que lugar a minha vida veio parar. Ou parou. São como os sonhos que eu tive um dia e poder saboreá-los mesmo que distante é algo gratificante. Já disse inúmeras vezes que certas pessoas são destino; não há outra explicação plausível. Simplesmente os nossos caminhos foram desenhados e traçados pra nos chocarmos com os delas (mesmo sendo desenhados nas linhas mais tortuosas que se pode imaginar). Aí você me pergunta: que sonhos um dia tiveste? Um dia sonhei em ser jornalista e sempre quis morar na praia. Acordaria todos os dias 5:30 da manhã pra correr e teria um apartamento que seria “a minha cara”. Mas a vida é implacável no que diz respeito a destruir meus planos. Sempre foi. E mesmo ela me mantendo cativa no mesmo lugar, deparei-me com meus mundos cintilantes. Destino, lembra? Apesar disso, tem dias que canso de estar “à margem”. Tem dias que meu “cativeiro” sufoca. Tem dias que eu sinto saudade do que eu poderia ter sido e não fui. Ainda dá tempo? Não sei dizer. Deve dar, sempre há tempo. Não gosto das coisas que quase chegaram a ser e não foram. Quase histórias. Quase pessoas. Quase mundos. Quase eu. Ou de coisas que me parecem emprestadas e que depois vão ser tomadas de volta. Às vezes tenho a impressão de estar vendo através de um vidro, vendo as coisas acontecer sem mim, apenas como mera espectadora de uma peça que era pra eu estar atuando também. Fico triste. Mas aí me lembro dos pontinhos cintilantes que encontrei pelo caminho. E de repente eles não são mais estrelas longínquas e sim vagalumes. Pequenos pontinhos brilhantes não mais inalcançáveis, mas que podem voar pra perto de mim a qualquer hora trazendo um pouco daquilo que outrora eu quis que fosse meu. Espero ser um pequeno vagalume pra eles também.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Dia que começou cinzento e estranhamente calmo. Confesso que nem sabia muito o que esperar dele: fui dormir ansiosa e beirando o desespero. O por quê? Simples: coisas que aprendemos e nunca sabemos. Misterioso? Nem tanto. Têm mais seres com a mesma "angústia" taquicárdica que eu por aí e não são poucos. Dia leve, carregado de metáforas e divagações sobre como nossas palavras podem ser mal interpretadas. Biscoito, nuvens, ar, chuva na estrada, risadas no corredor. Cotidiano. E você, o que fez da sua segunda-feira?
Muito obrigada aos que se indentificaram com a aleatoriedade dos pensamentos dessa garota aqui. Beijo e boa noite.
Muito obrigada aos que se indentificaram com a aleatoriedade dos pensamentos dessa garota aqui. Beijo e boa noite.
domingo, 24 de outubro de 2010
Ainda.
Depois de muito falar e prometer o blog tá aí. Agora compartilho com alguns poucos os meus devaneios. Devaneios esses que não cabem mais em 140 caracteres. Agora é hora de fazer a tão famosa sutura de pensamentos. Beijo e boa segunda.
23/10/2010
Só quando eu me encontro assim, nessa inquietude frenética, é que percebo o quanto somos um tanto patéticos ao tentar nos prostrar de alguns sentimentos ou sensações. Ou até o quanto temos a misteriosa capacidade de fazer pequenos pactos com nós mesmos; tratados que são quebrados com a mesma facilidade com que são criados. Eles vêm quase sempre acompanhados da velha desculpa de evitar traumas como os do passado, fazer com que criemos um lugar “seguro” longe de desilusões que tendem a deixar feridas que demoram um longo tempo pra cicatrizar. Seria mesmo o tempo o bálsamo curativo de tais chagas? Talvez. Uma das poucas coisas de que tenho certeza é que à medida que algumas pessoas e emoções são varridas de nossas vidas, outras vão substituindo o seu papel, ajudando a reescrever um roteiro muitas vezes desgastado e sem cor. E tem coisas que ultimamente andam trazendo cor até demais. Tanto que chega a deixar o estômago cheio de borboletas – coloridas, claro – se debatendo pra lá e pra cá levando essa confusão ao cérebro e consequentemente ao coração. O que? Coração? Sim, isso mesmo. Esse músculo cardíaco que durante um ano só servia pra bombear sangue, agora suspira. De novo. E aqueles pactos que fizeste? Lembra? Eu disse, foram feitos para serem quebrados. Ninguém consegue permanecer indiferente por muito tempo. Ainda mais nós, seres humanos inconstantes que somos! Quando vemos estamos aqui, sentados, as mãos suando e essa coisa dentro do peito que acelera mais e mais num ritmo difícil de controlar. Tentamos conter algo que foi crescendo e agora transborda; algo à prova de qualquer barricada que possa, eventualmente, ser (re)construída. Evitamos, falamos o tão famoso “nunca mais”, fugimos, choramos, brigamos com nós mesmos em vão. Porque o estado de latência passa um dia. E o que se há de fazer senão admitir pra si mesmo que tem algo de novo crescendo onde antes havia somente amargura? Ou pior: um lugar ermo, um vácuo ou qualquer coisa do gênero. Ver a muralha que construíste cair pouco a pouco, o calabouço no qual trancafiaste um de teus bens mais preciosos ser invadido por algo mais astuto e traiçoeiro. Algo despertou. A fortaleza que demorou tanto tempo pra ser construída fora atingida por uma bola de canhão. Não há nada a fazer senão entrar outra vez no campo de batalha. Os soldados do meu exército caíram. As trincheiras estão em chamas...
Assinar:
Postagens (Atom)