domingo, 8 de abril de 2012

Não permitido

Não sei querer. E meus olhos sempre me traem. Eles não veem por onde eu tropeço. Trôpega, enxergo somente aquilo que consigo tocar. Enxergo com as mãos, sinto com a pele. Noite e dia trocando de lugar. Alternam-se claro e escuro com uma rapidez que nos passa despercebida. Não existe tempo. Não existem horas. É como se três dias passassem em um só. Aí eu percebo, bem lá no cantinho, escamoteado, um propósito. Esperando aquele velho e bom motivo para transbordar. O motivo de sempre. Algo que roube o fôlego que ultimamente só cigarros consumidos ferozmente conseguem tirar. Notívagos, esvaziam garrafas compartilhando meia dúzia de palavras completamente sem sentido. Sem confessarem propriamente o motivo de ainda estarem ali. Restou, enfim, um par. As horas derradeiras, os copos vazios. Tudo se fundia perfeitamente: a música, as risadas, a calma. A certeza. Um desejo não permitido. O chão frio não importava. O chão frio e áspero parecia mais macio do que qualquer colchão em que já tenha deitado. E eu quis, mas não pude. A música preenchia o lugar e os espaços vazios que havia entre os dois. Contentei-me apenas em observar as luzes coloridas no teto. Antecipada a confissão já na primeira linha: não sei querer. Porque não mereço. E porque tenho certeza de que jamais compartilharemos nada além que fins de noite e uma porção de desencontros. Guardei os cigarros para a próxima vez. Em que nada será. Quer?

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