domingo, 22 de abril de 2012
Don't wake up.
Adormeceu de exaustão e acordou com os pés na água fria. A princípio não reconheceu o lugar, mas aquilo lhe trazia uma paz e um alívio que jamais sentira. Ou que há tempos não sentia. O mar agitado e o vento gelado dificultavam a caminhada. Porém, o vazio do lugar não a incomodava e nem o fato daquele vestido branco tornar-se inutilizável depois de encostar na areia. Caminhou por um tempo considerável e não encontrou nada além de galhos secos e conchas. Instantes depois deparou-se com alguns rostos familiares. Lembra que falava com eles, mas não se recorda do diálogo. E talvez nem precisasse. Logo a paz que sentia seria perturbada por um tumulto. Aproximou-se e viu um corpo. Uma criança. Morta. Vendo o desespero da mãe, não conseguiu esboçar qualquer tipo de reação. Um pavor intenso e uma sensação já bastante conhecida inundava cada centímetro de seu corpo. Não conseguia pensar em nada concreto. A cena bizarra não parecia real e ela tinha plena consciência de que não era mesmo. Tinha certeza apenas que as lágrimas que derramava pelo pequeno cadáver eram as mesmas de horas anteriores. Sentiu um enjoo forte e abriu os olhos. As paredes amarelas continuavam ali, apesar do quarto parecer girar causando-lhe um certo desconforto. Levantou, bebeu dois copos do suco de laranja que havia na geladeira, olhou seu rosto inchado e deitou-se novamente. Tinha certeza que qualquer sonho por mais mórbido que fosse, seria melhor que aquelas noites de merda numa realidade idem.
terça-feira, 17 de abril de 2012
It's sad when you feel uncomfortable in your own skin.
Especialmente quando você sente todos os dedos apontados em sua direção. Ou quando engole a seco a vontade de cuspir na cara de certas pessoas. Não, eu não acho que julgar quem quer que seja nos faz seres humanos melhores. Ninguém tem esse direito. Assim como ninguém tem o direito de fazer comentários miseráveis somente porque se sente uma pessoa medíocre. Uma palavra má posicionada e pronto, está desencadeada uma avalanche de auto-estima. E ficamos ali, parados, tomando porrada. Tem gente que acha que a intimidade pode transpor o respeito, quando esse sim deveria estar no topo da lista de prioridades das relações humanas. Mas tudo bem, você pode ficar aí com suas ações ponderadas, de pessoa comedida, respeitada e com a tua vida "perfeita". Tudo bem mesmo. E parabéns por cumprir todas as regras da cartilha do "bom comportamento". Só não se esqueça que enquanto você segue à risca o que os outros esperam que você faça, você não vive e não faz o que gostaria. E segue apontando o dedo para os outros quando deveria se olhar no espelho.
domingo, 8 de abril de 2012
Não permitido
Não sei querer. E meus olhos sempre me traem. Eles não veem por onde eu tropeço. Trôpega, enxergo somente aquilo que consigo tocar. Enxergo com as mãos, sinto com a pele. Noite e dia trocando de lugar. Alternam-se claro e escuro com uma rapidez que nos passa despercebida. Não existe tempo. Não existem horas. É como se três dias passassem em um só. Aí eu percebo, bem lá no cantinho, escamoteado, um propósito. Esperando aquele velho e bom motivo para transbordar. O motivo de sempre. Algo que roube o fôlego que ultimamente só cigarros consumidos ferozmente conseguem tirar. Notívagos, esvaziam garrafas compartilhando meia dúzia de palavras completamente sem sentido. Sem confessarem propriamente o motivo de ainda estarem ali. Restou, enfim, um par. As horas derradeiras, os copos vazios. Tudo se fundia perfeitamente: a música, as risadas, a calma. A certeza. Um desejo não permitido. O chão frio não importava. O chão frio e áspero parecia mais macio do que qualquer colchão em que já tenha deitado. E eu quis, mas não pude. A música preenchia o lugar e os espaços vazios que havia entre os dois. Contentei-me apenas em observar as luzes coloridas no teto. Antecipada a confissão já na primeira linha: não sei querer. Porque não mereço. E porque tenho certeza de que jamais compartilharemos nada além que fins de noite e uma porção de desencontros. Guardei os cigarros para a próxima vez. Em que nada será. Quer?
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Vocês
Cada dia que passa tenho mais certeza que toda minha força vital provém dessas pessoas maravilhosas que eu chamo de amigos. Todos os dias surpreendo-me com a generosidade, a compreensão e o carinho desses seres humanos maravilhosos que tive a sorte de encontrar e que me convencem que eu não sou um completo fracasso como eu costumo pensar. Eles que mesmo não estando presentes fisicamente, estão prontos para aparar qualquer queda, brusca ou não. Compartilhar o riso e o choro, as cervejas ou a sala de aula. Que não importa o que pensem de mim ou o que eu mesma pense de mim, me amarão incondicional e verdadeiramente. Com todo o direito de ser assim piegas e tola. Sentimo-nos fortes só de ver que eles estarão lá, nos esperando; inteiros ou em frangalhos. Estão lá só para provar que a vida ingrata, às vezes, vale a pena. Se você tiver com quem compartilhá-la, claro. A vocês, um brinde. E um muito obrigada. Por tudo.
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