sábado, 30 de julho de 2011

Fingerprints

Como de costume, os cabelos eram o alvo do seu nervosismo. Trazia no corpo somente o cansaço. Dessa vez nada de errado, além do risco de serem pegos no corredor do prédio. Talvez não fosse ele mas, de alguma forma, aquilo despertou-lhe algo até então esquecido em algum lugar secreto. Ou apenas soterrado por algumas outras precariedades. Viu que sentia falta de algumas coisas reais, embora o real sempre a fizesse ter medo. Medo esse que justificaria qualquer tipo de ação infundada ou julgada de forma errada por quem não tem disponibilidade e vontade de ir além, de conhecer de verdade. Sentia-se à vontade pra compartilhar alguns pensamentos mesmo que isso fosse parte de um possível plano bem elaborado e executado com perfeição no final. Mesmo assim não deixaria de ser algo bom. Pelo menos por aquelas horas. A inconstância tem perdido seu lugar para a necessiadade de coisas duráveis e construtivas. Coisas que às vezes a distância dificulta, assim como algum tipo de nó feito de traumas que insiste em mantê-la fora de alcance. Sabe, às vezes gostaria que algumas pessoas não fossem apenas um vislumbre, gostaria de segurá-las pela mão e ali fazê-las ficar. Porque a partir do momento que você percebe que pode querer mais do que aquilo que é proposto, que você é mais do que aquilo que é visto, surgem novos propósitos. Mais doces. Que podem tocar o real e ali permanecer; nessa linha tênue que separa algo fantasioso daquilo que se pode tocar. Desejaria que as mãos que por vezes deixam suas impressões digitais no corpo, deixassem também marcas profundas e permanentes no coração. Mais nada.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Verdes

Eu e minhas andanças. Pra lá e pra cá dentro de ônibus pra dar conta de compromissos e prazos. Pois bem. Hoje era pra ter sido uma tarde corrida, só fazer um bate e volta, jogo rápido. E eis que nessas minhas "voltinhas" deparo-me e divido bancos de ônibus com pessoas que mais parecem personagens de algum conto bizarro. Ela estava indo pra Curitiba, estava voltando pra casa. Tinha vindo visitar a neta de apenas dois anos. Falava da menina com aquela paixão que só as avós de primeira viagem possuem. Me contou que tem três filhos já crescidos e formados. Falava com eles com orgulho. Reclamou que quando vem pra Rio do Sul nunca há nada de bom pra fazer. E nisso concordo completamente com ela. Contou-me sobre seu passado, da infância com os tios e até de abusos que sofreu deles. "Tinha vergonha de falar que meu tio mexia comigo. Porque pedófilo sempre nega e a maioria pensa que é a criança que gosta" - desabafou. Casou-se cedo e pelas feições ainda era jovem. Uma jovem senhora com apenas 52 anos. Divorciada, disse ter um namorado há três anos e possui até um perfil no orkut. A última vez que viu sua mãe pela webcam, ela estava "super bem". Disse não se importar de viajar horas e horas de ônibus para ver sua netinha uma vez por mês. Conversava comigo olhando nos olhos e possuía um par de olhos verdes belíssimo, difícil de se ver por aí. Pareceu-me uma senhora simples e independente que já havia cumprido seu papel como mãe e agora queria "aproveitar", como ela mesmo me disse com aquele sotaque puxado dos paranaenses. Cheguei ao meu destino rápido, porém pra jovem senhora ainda havia longas horas de viagem pela frente. Desci pensando que nunca saberia seu nome e nem ela o meu. Nem mesmo que essa conversa viraria um texto. Ou que isso faria meu dia mais feliz, talvez. Quem dera sempre dividir esses bancos de ônibus e horas cruzando o asfalto com pessoas que possuem histórias inspiradoras como a dela. Fico aqui pensando e desejo profundamente que tenha sido uma boa viagem.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dia do vagalume

Eu nem sabia como começar a escrever sem cair em algum clichê. Sem começar com a famosa frase "amigo de verdade é aquele que..." e inserir algum verbo ali. Porque, concordemos, como traduzir em um simples texto o quão importantes são nossos amigos? E, caindo inevitávelmente no clichê babaca, amigo de verdade pra mim é quase um irmão. É aquele que tu pode passar meses e até anos longe e parecer que passaram-se apenas cinco minutos. Como era de se esperar eu empaco em cada linha desse post. Impossível mensurar e traduzir o carinho que eu nutro por cada um dos meus amigos. AMIGOS. Não colegas ou eventuais conhecidos. Aqui cabe aquela diferença básica: com meus amigos eu compartilho tanto as coisas ruins ao meu respeito quanto as coisas boas. E posso saber quando alguém é meu amigo quando parece que essa pessoa me "lê", já que eu não falo do que eu sinto com muita facilidade. Amizade é partilha, é você saber que pode dividir os bons momentos e as provações. Talvez eu não seja o tipo de pessoa que fica cheia de paparicos, beijos e abraços e sim de proteger quem eu gosto. Proteger para inspirar confiança. O dia do amigo também serve para lembrar-mos dos diferentes amigos que já passaram, mas que não são menos importantes do que aqueles que surgiram para "ocupar" o seu lugar, embora nenhuma pessoa seja tão facilmente substituível. Tive sorte de encontrar pessoas tão especiais para fazer parte da minha vida e não à toa os chamo de vagalumes: todos com sua bioluminescência singular. Àqueles que já passaram, àqueles que moram longe, aos de anos, aos antigos colegas de escola, àqueles que estão chegando agora, aos melhores amigos, aos amigos virtuais e imaginários:





feliz dia do amigo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Stop being such a bitch.

O título é uma bronca pra mim mesma. Depois de tantos excessos. Sempre eles explodindo e acabando com as coisas. Não foi legal. Não foi divertido. Eu não ri, não foi uma piada. Quase coloquei tudo a perder. Quase te perdi. E por frações de segundos. Quando o que é exagerado te faz perceber que poderia ter perdido para sempre a confiança daqueles que ama e que te amam, é hora de parar. Dessa vez foi longe demais. E cansa reciclar personagens da mesma história. Cansa muito. Substituir papéis. Talvez eu seja mesmo tudo aquilo de negativo que devem pensar sobre mim e a cada dia que passa acredito mais nisso. Minha cabeça não para de repetir: "eu quase coloquei tudo a perder". Fica dando voltas em torno dessa mantra maldito. Sentir que falhou é ruim, é uma das coisas mais miseráveis que existe. Minha relação com as pessoas está ficando cada vez mais estranha e, reciclando, algumas frases de meses atrás, continuo indo contra aquilo que eu realmente quero e acredito. Eu quero mudar e esse querer vai além de tudo aquilo que se vê em noites que nada se vê realmente. Lá estava eu, quase quebrando a confiança de alguém. Quase não sendo "confiável em uma tempestade". Quase estragando tudo. Quase.









Have faith in me.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Um ano e sete meses

Hoje faz um ano e sete meses. Um ano e sete meses sem aquele café. Um ano e sete meses sem aqueles tantos perfumes e batons. Um ano e sete meses sem novos livros. Um ano e sete meses sem ir esperar no trabalho. Um ano e sete meses sem aquele abraço. Um anos e sete meses sem paciência. Um ano e sete meses sem refúgio. Um ano e sete meses sem o orgulho dela das minhas conquistas. Um ano e sete meses sem almoço de domingo. Um ano e sete meses sem café da tarde na melhor confeitaria da cidade. Um ano e sete meses sem desejar parabéns. Sem feliz Natal. Sem feliz ano novo. Hoje, especialmente hoje ela me fez falta. É uma sensação que vem de vez em quando. Não gosto de lembrar assim, com tantas ausências. Mas hoje eu acordei com saudade dessas pequenas coisas. Coisas que quando a gente tem, parecem insignificantes. Eu sinto falta desse cuidado, sabe. Não transparece, eu não falo sobre. É uma saudade sentida escondidinha, muitas vezes enxarcando o travesseiro. Hoje faz um ano e sete meses sem a minha mãe. E eu acordei assim, com muita saudade dela.