domingo, 20 de março de 2011

Tua namorada me odeia.

Borrões. Ultimamente as coisas estão meio borradas. Não se vê nada claramente. De dia, as árvores se transformam em manchas verdes ao longo da estrada fundindo-se com as faixas amarelas do asfalto. As noites vêm carregadas de copos manchados de batom vermelho; batom muitas vezes deixado em bocas estranhas por aí. Algumas vontades ocultas são potencializadas por líquidos de cor âmbar e nessas noites em que perde-se muito mais do que a credibilidade, por assim dizer, entram em cena personagens que parecem não figurar no mundo real. São personagens mágicos e essas madrugadas insanas são como filmes com começo e nenhuma continuidade, nem mesmo fim. Ou será que o fim é aquela parte em que você acorda em um quarto estranho, com a garganta rouca (culpa do cigarro) e a cabeça girando tentando lembrar de alguma parte desse tal "filme"? Aí tudo vem como pequenos flash backs e você pensa que queria não ter feito o que fez. Não queria ter dançado como dançou. Não queria ter cruzado aqueles olhares e nem bebido tanto. Mas é impossível se controlar quando as madrugadas são tão sedutoras. Tão mais sedutoras que a tua "vida real". Que aquelas coisas chatas de adulto que te foram impostas. É tão libertador andar na areia ou debaixo de chuva sem se importar se a umidade vai estragar o cabelo ou borrar a maquiagem. Ou sem se importar se nunca mais voltará a ver aquele par de olhos azuis. Ou castanhos. No fim, elas se tornam imagens distorcidas pelo álcool na lembrança. Tão linda "a princesinha da vó" ter-se tornado patética aos 20 anos. Que aquele cabelo que era trançado com tanta ternura agora nada mais é que mistura de nicotina e xampu. Que as mãos que costumavam escrever por horas a fio agora tocam corpos desconhecidos e carregam copos cheio de cerveja. Vergonha. E tudo se repete. Porque precisa correr mais riscos e perder-se mais pra sobrepor as esquisitices que fizera. Abusar de alguma substância que entorpeça pra esquecer a mediocridade de tudo que me cerca. Pra esquecer tudo. Pra esquecer nada. Pra deixar pra lá o batom borrado. E fazer de conta que a tua namorada não me odeia.

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