quarta-feira, 30 de março de 2011
Minha pessoa
Certa vez ao assistir a um episódio de Grey's Anatomy, deparei-me com uma fala da personagem Meredith Grey na qual ela dizia à sua amiga Christina Yang que ela era "a sua pessoa", a pessoa a quem deveriam recorrer no caso de uma emergência. Pois bem. Em virtude dos vários mal-estares de que fui acometida nessas últimas semanas, em meio a chás e dores de cabeça me lembrei disso. Não só porque tem um pouco a ver, mas porque, oras, afinal de contas quem são "as nossas pessoas"? A quem recorremos quando a coisa aperta? No fundo, no fundo somos bebês chorões e manhosos ainda. Loucos para nos jogarmos num colo macio e confortável somado a um cafuné. A impressão que eu tenho é de que nos falta reconhecer a quem a gente pode ter a certeza de que não fará pouco caso da nossa vulnerabilidade, ou até melhor: quem consegue ver além, por trás de toda a auto-suficiência que a idade e o tempo (aparentam) trazer. A "nossa pessoa" deveria saber disso. A "nossa pessoa" não foge de nós quando estamos à beira de um colapso nervoso. A "nossa pessoa" deveria já vir com algo que a identificasse. Seria tão mais prático. Mas acima de tudo, penso que "a nossa pessoa" é aquela que aparece primeiro na nossa cabeça e a que mais fundo habita nosso interior; é a que está cravada no coração. É a que a gente tem certeza que tá sempre ali. Ela não é um ser de outro planeta, um unicórnio, a fada do dente ou coisa do tipo. Talvez seja a que mais apresenta defeitos (à primeira vista). E quem disse que precisa ser uma só? Podem ser algumas boas, contanto que o reconhecimento seja recíproco. E é tarefa única de cada um reconhecer o seu "anjo" (não consegui achar expressão melhor). Quanto mais a gente vaga sozinho, quanto mais coisa a gente supera, mais fácil fica de reconhecer quem será "aquele poço almofadado que caímos sem nos ferir" e mais fácil fica da "nossa pessoa" se revelar pra nós. O descaso com quem amamos às vezes dificulta as coisas e alonga distâncias que não deveriam existir. Quisera eu ser "a pessoa" de alguém...
terça-feira, 29 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
Tua namorada me odeia.
Borrões. Ultimamente as coisas estão meio borradas. Não se vê nada claramente. De dia, as árvores se transformam em manchas verdes ao longo da estrada fundindo-se com as faixas amarelas do asfalto. As noites vêm carregadas de copos manchados de batom vermelho; batom muitas vezes deixado em bocas estranhas por aí. Algumas vontades ocultas são potencializadas por líquidos de cor âmbar e nessas noites em que perde-se muito mais do que a credibilidade, por assim dizer, entram em cena personagens que parecem não figurar no mundo real. São personagens mágicos e essas madrugadas insanas são como filmes com começo e nenhuma continuidade, nem mesmo fim. Ou será que o fim é aquela parte em que você acorda em um quarto estranho, com a garganta rouca (culpa do cigarro) e a cabeça girando tentando lembrar de alguma parte desse tal "filme"? Aí tudo vem como pequenos flash backs e você pensa que queria não ter feito o que fez. Não queria ter dançado como dançou. Não queria ter cruzado aqueles olhares e nem bebido tanto. Mas é impossível se controlar quando as madrugadas são tão sedutoras. Tão mais sedutoras que a tua "vida real". Que aquelas coisas chatas de adulto que te foram impostas. É tão libertador andar na areia ou debaixo de chuva sem se importar se a umidade vai estragar o cabelo ou borrar a maquiagem. Ou sem se importar se nunca mais voltará a ver aquele par de olhos azuis. Ou castanhos. No fim, elas se tornam imagens distorcidas pelo álcool na lembrança. Tão linda "a princesinha da vó" ter-se tornado patética aos 20 anos. Que aquele cabelo que era trançado com tanta ternura agora nada mais é que mistura de nicotina e xampu. Que as mãos que costumavam escrever por horas a fio agora tocam corpos desconhecidos e carregam copos cheio de cerveja. Vergonha. E tudo se repete. Porque precisa correr mais riscos e perder-se mais pra sobrepor as esquisitices que fizera. Abusar de alguma substância que entorpeça pra esquecer a mediocridade de tudo que me cerca. Pra esquecer tudo. Pra esquecer nada. Pra deixar pra lá o batom borrado. E fazer de conta que a tua namorada não me odeia.
sábado, 5 de março de 2011
Dos pares
Um de ouvidos e um de mãos. Um para servir de alento, outro para servir de refúgio.
Porque os que possuo não me bastam. Não mais.
Um breve precisar que se repete. Onde será que andam os vagalumes?
Porque os que possuo não me bastam. Não mais.
Um breve precisar que se repete. Onde será que andam os vagalumes?
terça-feira, 1 de março de 2011
Estranhos no corredor
Era meados de agosto quando se rendeu. Ou será julho? Já não lembra mais; parece ter sido guardado em algum lugar longínquo de sua memória. Era inverno. O que viria a ser o melhor de todos em muito tempo. Ainda consegue fechar os olhos e lembrar das cores na parede da sala de estudos e dos perfumes. E de como aquele casaco azul era quentinho. Já não lembrava mais, ou escolhera por não querer lembrar. Porém, um dia, foi acometida de algumas lembranças que viriam de algo bem improvável: a chuva. Cada gota no telhado daquele sábado trouxe pra si um pequeno flashback de algo tão intenso quanto breve. Efêmero. Significante também (...) Sempre chovia. Desde a primeira vez. Desde a "bandeira branca", do baixar da guarda. Desde que o deixou entrar. Lembrou da primeira vez em que subiu aquelas escadas. Idagou-se: "o que diabos estou fazendo aqui?", mesmo sabendo que aquele ali era o lugar em que deveria estar. Pelo menos naquele momento. Lembrou do beijo tímido, do "é por aqui", do "tá frio", e ainda do "pensei que não acharia sua casa". Do suéter azul, do seu suéter listrado de preto e branco, da bolsa xadrez, do filme (era laranja mecânica) e do adormecer sem querer no sofá. Chovia muito. Era de se esperar que capotasse por ali mesmo. Eram duas da tarde quando a levou pra casa. Sorria com a exigência que ele tinha imposto: "exclusividade da mesma forma que tens". A cumpriu. Mesmo sabendo que num futuro breve desejaria nunca ter o feito e que ele mesmo quebraria tal exigência. Logo, namorados. Logo, desamores. E a chuva sempre acompanhando assim como o frio. O apelido que dara a ela não fazia jus à estação do ano. "Pequeno maracujá", era quase assim. Tanto cuidado. Jogado fora. Não consegue lembrar das partes feias, as bloqueou. Talvez esteja lembrando certo. A chuva deve ter lavado, levado embora. Das mãos, nunca esquece. Ela tinha obsessão por mãos e tinha escolhido as dele como preferidas. Não encontrou mãos parecidas com aquelas, nem quis. Memorizou cada canto, fotografias mentais: quarto, cozinha, corredor, sacada, álbuns, histórias, caminhos, a escada... E com o tempo esqueceu da voz, do perfume, dos cabelos e até das mãos. Desistiu de recordar. Porque tinha noites em que alguns sonhos traziam a ilusão de o ter perto. Coisa que a realidade de um novo dia desfazia. Fora essencial num momento crucial. Mas tinha desistido de lembrar. Tinha esquecido de uma parte do que fora. Do que conseguiu sentir. Que conseguia sem importar. Que o adorava. Que talvez nunca deveria ter subido as escadas. Que guardaria aquilo em algum lugar e que acharia meio sem querer, assim como aquele seriado que gravou pra assistirem num sábado chuvoso. E que não terminaram de ver. Achou, olhou, recordou, derramou algumas lágrimas tímidas e trancou de volta no lugar. Já não fazia mais sentido há muito tempo. E no outro dia haveria sol...
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