domingo, 6 de fevereiro de 2011
Ela era o cara.
Me peguei pensando nela esses dias. Lembrando. Lembrando de uma forma legal, não triste. E isso também não significa que eu a esqueci. Jamais a esquecerei. Jamais esquecerei o trajeto que fazia para encontrá-la pro almoço às vezes. Ou dos livros pro vestibular que eu lia enquanto a esperava no trabalho. Assim que saia, acendia um cigarro. Era batata. O mais engraçado é que, apesar de fumante, nunca exalava fumaça de cigarro. Sempre achei isso impressionante: ela estava sempre muito perfumada. Não era vaidosa ao extremo, mas não dispensava um batom de cor forte. Aliás, tinha vários; uma coleção deles. Adorava sapatos também. Ah, e bolsas. Nunca a vi usando tênis e esse fato sempre me deixou curiosa. "Não gosto", dizia. Também não usava sapatos vermelhos alegando ficar com "pés de pombo". Okay. Era culta, engraçada e ótima cozinheira. Tratava os outros como iguais, com simplicidade e gentileza. Costumava apelidar as pessoas que mais gostava e deu o nome a todos os cachorros que tínhamos. Os adorava. Adorava ler também. Na verdade, devorava os livros. Dentre seus preferidos estavam Sidney Sheldon, Harold Robbins e Agata Christie. Era fã da literatura machadiana também. Quando perguntei a ela certa vez se Capitu traiu ou não Bentinho ela respondeu: "Vai ler, oras. O livro tá lá dentro!". Como eu disse, era culta. E não só em relação à literatura: música, cinema, esportes. Mal sabia eu que tinha tanto dela em mim. Foi preciso o término de um relacionamento de 19 anos pra eu perceber isso. Só ela sabia como mexer no meu cabelo e só ela me chamava de rabugenta do jeito mais carinhoso e lindo do mundo. Tem dias que eu acordo lembrando que me esqueci às vezes. Temo por esquecer da voz dela, das mãos dela, do perfume. Temo por esquecer o que aprendi com ela e até de decepcioná-la, mesmo sabendo que isso não é mais possível. Ou é? Ela me amou mais que tudo, acreditou, me ensinou a ter paciência, a respeitar os outros e aceitar as diferenças entre nós, humanos. Me ensinou a ter caráter, a ser o que eu sou hoje. Ela que me deu a vida e que se foi. Uma coisa é certa e que ainda dói de vez em quando é que eu nunca mais vou poder apresentá-la a ninguém. E nada do que eu fale ou escreva, nenhuma homenagem nunca será o suficiente pra homenagear Dona Rita. Minha mãe era o cara!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário