Escreve uma linha. Apaga. Escreve outra. Apaga. Escreve pela terceira vez. Apaga. Comecei a escrever mais essa confissão assim. Mais essa tentativa frustrada de tentar aplacar alguma coisa que nem eu mesma saberia titular. E como poderíamos prever que com o tempo deixaríamos de colocar a culpa nas coisas e nos borrões noturnos pra finalmente admitir que não tem mais jeito? Que não tem mais volta. Que se perde cada vez mais. É como tomar uma dose diária de veneno até que, de repente, o coração pare de bater. Às vezes recorria às lágrimas pra expurgar alguma possível vergonha ou tentar buscar redimir-se de eventuais desacertos. Bobagem se a alma já está impregnada por manchas que tão cedo não serão removidas. É estranho olhar no espelho e ver algo de diabólico ali no rosto de menina. E mais estranho ainda é aceitar esse lado até então desconhecido. Nocivo não para os outros, mas para si mesmo. É assim, nessa dualidade que percorro alguns caminhos que talvez não tenham volta. Não levo bússolas, nem mapas, nem deixo o peso da bagagem atrapalhar. Assumir finalmente que cada vez mais vou na contramão das coisas que desejo, só pra quando conseguir não sentir saudade do tempo em que quase nada importa. E que é agora. Ir, ficar. Não importam-me paradas, pontos fixos e porto-seguro se aqui dentro as coisas estão sempre em um ritmo frenético. Se são imóveis. Lugares, rostos, vozes que se desfazem assim que o dia ganha vida. Disso ficam algumas manchas no corpo, alguma bebida, bagunça. Nada nunca permanece. Cada vez mais difícil dizer "tchau". Ou pior: cada vez mais distante de um eventual pedido susssurrado talvez entre palavras duras e saído de alguma ponta de fragilidade confessa: "fique". Cinco letras aprisionadas em algum canto por aí e longe de serem libertadas. Tão longe...
"Yeah, that's me exerciting my detachment"
segunda-feira, 30 de maio de 2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
Nos dias em que o amanhecer é mais laranja
Eu gosto do inverno e não é nenhum segredo. Não apenas pelo charme característico da estação, mas porque me lembra muito a minha infância. Não que eu seja saudosista (na verdade nem lido muito bem com o passado), mas disso eu gosto de lembrar porque me ajuda a me entender um pouco. Lembro-me bem das cortinas do meu quarto. Tinha uns desenhos que quando o sol batia de manhã cedo, intensificava suas cores. E eu amava o peso das cobertas também. Há quem odeie, mas acordar no inverno tem toda aquela adrenalina de sentir a roupa gelada entrando em contato com o corpo quentinho. Tinha as viagens à Lages naquelas manhãs lindas de céu azul que chegava a arder o olho. Lembro-me bem das músicas que o pai colocava na viagem; aquelas coisas tradicionalistas que a gente detestava. Lembro-me da casa das minhas avós, sempre nos esperando com comidas deliciosas e chimarrão. Nos sábados de manhã, gostava de ouvir minha mãe levantando pra fazer café e ligando o rádio. Eu reclamava, mas logo ia ter aquele vento gelado lá fora pra andar de bicicleta usando luvas. E como meu cabelo preto cheio de cachos ficava bonito naquele casaco vermelho de veludo... Hoje eu me sensibilizei ao recordar de todas essas coisas. Porque depois de grande o frio incomoda, o peso das cobertas não importa. Na verdade, nem sinto mais tanto frio. Os cachos do cabelo sumiram e o vento, bem, o vento é bom pra secar as roupas. Tantos afazeres. Tantos, milhares. Crescemos, enfim. Fica quase impossível alcançar algum lugar quando esquecemos do berço. Do lugar e das pessoas com quem a gente tem um laço feito de sangue e genes em comum. Das coisas que mais me lembram a infância, resta minha família. Esqueci-me de por essa pitadinha de amor deles nos meus dias frios. Eis o verdadeiro refúgio. Eis o verdadeiro lar. E se deixei escapar por um minuto que fosse, se deixei-me entrelaçar por escolhas erradas é porque peguei trilhas erradas. Falta esse tipo de carinho verdadeiro. Falta esse colo. Falta amor, menina. Falta amor.
Let there be love.
Let there be love.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Me veio à cabeça há pouco: de todos os golpes da vida que me atingiram, aprendi a dizer muita coisa menos "me desculpa". O orgulho se sobressai, atravessa meu caminho sempre. Não vou nem me estender no que talvez seria um ensaio sobre o perdão. Na maior parte dos casos não buscamos ser perdoados, buscamos paz de espírito. Consciência leve como uma pena. Então, por tudo que eu não consegui dizer, por todas as evasivas, por todo o ciúme besta, por todo o carinho que eu não fui capaz de oferecer à potenciais amigos, pela negligência e pela ausência...
Me desculpem.
Me desculpem.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Ócio destrutivo.
Não pra me explicar, nem tampouco procuro uma forma de me redimir pelos meus atos muitas vezes mal interpretados. Nem mesmo pra entender essa mente "Jolliana" como disse um novo amigo ainda há pouco. Não é de se esperar que alguém saia ileso depois de tantos cortes (profundos ou não) que levou. Sou do tipo de pessoa que precisa se destrair de si mesma. Do tipo de pessoa não pode estar sempre, vinte e quatro horas por dia envolvida consigo mesma. Que precisa se distrair daquele vício cruel de mergulhar em abismos onde habitam seus medos, demônios e angústias mais profundos. Também não sei mendigar afeto, talvez seja isso o que a maioria ache estranho: a incapacidade de dizer "preciso de você". É meu jeito, não adianta. Talvez seja porque costumamos dirigir essa frase a seres que tomam isso como meras palavras juradas ao acaso. Não é sobre tristeza, nem sobre marcas. E sim sobre fantasmas. E os ventos obscuros que os trazem de volta do passado perturbam. Fazem-nos "lembrar errado". Trazendo consigo toda a sujeira que a gente um dia jogou pra debaixo de um tapete chamado tempo. Ah, se soubéssemos que as voltas que o mundo dá são traiçoeiras! Gira, gira e pára no mesmo lugar de antes. Mal consigo encarar tais monstros, não há como olhar tais feições. E conforme o passar do tempo, elas vão ficando mais insuportáveis de ser vistas e a não há força suficiente pra encará-los. Aí recusa-se qualquer coisa vinculada a essas assombrações que insistem em nos lembrar de toda nossa fragilidade. Fragilidade, aliás, que é puro descaso de algumas pessoas julgar ser "nariz em pé" ou coisa do gênero. É só medo de conhecer a fundo. Falarei do que me incomoda e me entristece se e quando houver essa necessidade. Quando eu estiver concentrada demais em cavernas que guardam meus monstros internos. Não sou obrigada a conviver com o que me traz lembranças tão doloridas. Pensem como quiser, lidem com isso como quiser. Passei muito tempo tentando me corrigir e me prostrar até daquilo que me fazia bem em prol de um "bem comum". Chamem de subterfúgios, chamem do que quiser. Eu só preciso me sentir bem. E acima de tudo: estar perto de quem me queira bem.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Mudança de foco
Ter predileção por um estereótipo pré-determinado é um saco. E eu sofro desse mal. Analisando conversas, e-mails, conversas internas, etc. e tal chego à conclusão patética de que: quanto mais fingida for a pessoa, mais eu gosto. Nem é por ser ludibriada, enganada, "feita de boba", nem nada. Dá pra perceber sempre quais são as intenções reais de alguém para com você. SEMPRE dá. Pois bem. A pergunta que veio à minha cabeça é: pra que? Por que uma pessoa tem que se dar ao trabalho de construir toda uma "imagem", todo um conceito de si mesma pra outra sendo que não tá nem aí pra ela? O pior não é nem isso. Pra mim a pior parte é aquela em que tu não consegue fingir também, que sempre deixa tuas intenções às claras e ainda por cima compartilha traços daquilo que tu é (de verdade) com aquela pessoa (de mentira). Pessoas mentirosas que não tem propósito algum na merda da vida delas a não ser sair por aí ostentanto seus "feitos", seus troféus humanos. Poderiam muito bem decaptar-nos e colocar nossas cabeças numa parede. Como disse, tenho predileção por idiotas. Porque o padrão é sempre o mesmo. Porque eu gosto de crer que mesmo aquela cara de pau tem algo que podemos chamar de alma. E nem tô falando aqui só de relacionamento amoroso. Isso serve também pras amizades. Me cansa ver gente fazendo um esforço descomunal pra ser aquilo que os outros querem que elas sejam. Ou até que elas querem que os outros pensem que elas sejam. Entendeu? Nem eu. Deu nó. Pra falar bem a verdade, não consigo entender que graça há em tratar as pessoas como pequenos troféus. E abomino isso. Como disse, prefiro a decaptação.
I'm not calling you a liar.
I'm not calling you a liar.
Sitting all alone inside your head.
Parece até um certo tipo de refúgio. Recorrer a este "rascunho" virtual pra alinhar os pensamentos ou até suturá-los numa tentativa de esvaziar esse pote interno de sensações incômodas. E sufocantes. Suponhamos que eu tenha escolhido as pessoas erradas como escape. Que eu tenha desnudado demais minha personalidade e minha vida a quem tomou isso e jogou fora em uma vala qualquer. Ou até quem quis um quinhão daquilo que conquistei. Posso confessar que, sinceramente eu não sei mais o que as pessoas veem em mim, nem eu sei mais se a visão que tenho delas é a certa. A cada dia que passa fica mais difícil pra mim conviver com particularidades alheias que me machucam e me torturam em silêncio. Por trás daquele sorriso cortês vem surgindo uma mágoa oriunda de uma insatisfação que dói e incomoda. Inútil fugir e fingir que não. Sinto-me como naqueles meses onde os episódios do que era o meu cotidiano vinham recheados de olhares que mais pareciam condenações pelos corredores. Naquele tempo eu tive, agora não sei de onde tirar forças pra engolir o choro e enforcar os fantasmas do passado um por um. Aí eu penso e vejo que priorizei as coisas, as pessoas, os lugares e as posturas erradas. Vejo que me deixei de lado. Sempre tiro um tempo para organizar os compromissos exteriores, a casa, os papéis, os estudos, o corpo. Deixei de lado uma porção que de tão esquecida, adormeceu. Escolhi as válvulas de escape erradas. Elas não foram escape pra nada, foram só a corda que eu coloquei no pescoço esperando pra que alguém puxasse a cadeira. E esse alguém fui eu mesma. Ando com aquela sensação que eu tive há exatos um ano e cinco meses: de que as pessoas estão com um certo "medo" de mim. Que a reclusão esconda a melancolia que a morte de um ente querido traz. Podia dizer que antes era, hoje já não mais. As lembranças boas te ajudam a seguir. Devo dizer que pôr os pézinhos 35-36 no chão não é tarefa fácil. Não quando alguma coisa te assombra, te sufoca e te impede de estar onde você realmente quer estar. Mas eles se importam? Não. Talvez ninguém entenda. E nem deva. Tomar coragem pra assumir as escolhas e as imposições do universo e dizer de um fôlego só: eu sou assim. Parar de procurar explicações e ensaios para se auto-afirmar ou ser pertencente à. Aquilo que nos traz contentamento e prazer tá sempre mais perto e muitas vezes é interno e não externo. Não adianta procurar longe o que está ao alcance da mão. Quando os pensamentos ficam turvos, de nada adianta preencher o copo e a cabeça com entorpecentes. Válvulas erradas, lembra? Então fecho todos os possíveis caminhos de fuga e me assumo. Respiro. Não tento mais apagar ou camuflar meus desacertos, aprendo com eles. Escolho. A partir do momento em que a gente se assume, pode se doar por inteiro aos outros. Prefiro acreditar que seja assim. É difícil se tornar uma pessoa comedida e "melhor" de uma hora pra outra. Tenta-se dando um passo de cada vez. Sem mais apagar passos errados. Acredita-se de novo.
"You can't expect to bitter folks
And while you're outside looking in
Describing what you see
Remember what you're staring at is me"
"You can't expect to bitter folks
And while you're outside looking in
Describing what you see
Remember what you're staring at is me"
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