segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mea culpa.

Costuma trançar repetidas vezes os cabelos quando nervosa. Quando se perde. Tocar os próprios cabelos lhe parece uma forma de tentar entrar em contato consigo de novo. Recuperar algo que foi deixado em uma esquina qualquer. Ela tem andado perdida. Vazia até eu diria. Quase como uma peça de quebra-cabeça na caixa errada. Sabe, ela tem andado sem ouvir o som dos carros. Tem sentido frio à noite, mesmo no verão. Dorme muito ou muito pouco. Está com olheiras. Perdeu o apetite. Faltou cor. Faltam ouvidos, faltam ombros. Esqueceu-se de si em um lugar qualquer e agora que lembrou, viu que tem deixado estilhaços pelo caminho. Pedaços de si mesma e algumas farpas que acabaram por ferir outras pessoas. "É perigoso esquecer de si mesmo", pensou um dia desses. Porque ela tentou se apoiar onde não deveria. Porque tentando encontrar-se (ou será perder-se?) cometeu uma falta gravíssima. Machucou alguém. Levar-se a extremos tem dessas coisas. Ela não sabia como voltar. Não dá mais pra voltar. Magoar os outros dói muito. E é querer demais pedir desculpas. Fraqueza como essa não tem desculpa. E ela sabia. Porém, provou mais uma vez o que é ser humano: somos passíveis de erros, dos mais variados. Erros que tomam proporções catastróficas muitas vezes. Pelo menos dentro da gente. Tem como consertar? Tem reparo? Será que se colar, funciona? Não sei. Ela tinha apenas alguns segundos antes de evitar a colisão. Os sentidos estavam ofuscados. Não viu, não pensou, não freiou. A amizade que estava no banco do carona ficou gravemente ferida. E ela não sabe se vai conseguir salvá-la. E olhando o estrago, de longe, ela espera. Espera o socorro enquanto trança vagarosamente os cabelos pretos...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ímpar.

Um pôr-do-sol. Um amanhecer. Um poema bonito. Um quadro. Uma fotografia. Um sabor. Um vinho. Um filme. Uma rua. Uma risada. Uma frase. Uma saudade. Um perfume. Um café. Uma paisagem. Um caminho. Uma viagem. Um despertar. Um domingo. Um arco-íris. Uma estrela. Um olhar. Uma música. Um livro. Uma noite de sono. Um passatempo. Uma caminhada. Uma lágrima. Um plano. Uma cidade. Uma vontade. Uma ausência. Uma xícara de café. Uma dia. Uma noite. Uma pessoa...



Tudo ímpar esperando pra ser dividido. A porta está sempre aberta e tem mais um lugar na mesa. Sempre.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Formigas.

Crise de criatividade que me pegou de jeito. Até tinha alguns pensamentos pra suturar, poderia falar sobre meus planos, sobre as formigas, sobre o calor, sobre cerveja. Mas não. Vou falar de qualquer coisa aleatória que fará jus à minha mistura de pensamentos e "sentimentos". Assim, entre aspas porque até meu tênis é mais afetuoso do que eu. Entro em crise. Reflito. Bebo. "All we need is love". Bobagem! Precisamos cantar, pular, viajar, enlouquecer, dormir, comer, beber, comer mais, rolar na grama, andar descalço na areia, ler quinze livros, mudar de cabelo, mudar de cidade, viver. Mas e o afeto? - você me pergunta. Ah, pois é. Não sei. Não sei quem é essa biscate chamada paixão, esse tresloucado chamado amor, muito menos quem é esse maluco chamado compromisso. Há muito fui desprovida não da capacidade de sentir algo por alguém, mas da capacidade - invejável devo dizer - que certas pessoas possuem de se iludir. Ou será que é de acreditar? Será que reconhecer-se incapaz demonstra algum tipo de necessidade de volta de tais capacidades? Não sei. Existem traumas. Existem mágoas e acima de tudo: existe medo. Reconstruir-se depois de quedas bruscas leva tempo e coragem. Talvez ainda não seja a hora. Minha auto-defesa é um lugar seguro. Por enquanto.



Sim, o título foi aleatório.



Boa noite, vagalumes.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sai um, vem outro.

Todo começo de ano é a mesma coisa: parece que um chumaço de algodão ocupa a minha cabeça. Parece sempre que me é dado um grande painel em branco pra eu "pintar" o que quiser durante a passagem do ano. Mas tem coisa que a gente não quer que mude né? Tem coisas que a gente quer que permaneçam porque eu, mais do que ninguém, estou farta de perdas. Ou de substituições. É trabalhoso e cansativo construir todo e qualquer relacionamento: seja de amizade, seja conjugal, profissional. E eu tenho um problema bem babaca de superestimar as pessoas que fazem parte da minha vida. Algumas delas mudam, outras dizem querer sumir, outras simplesmente não permanecem. Mas e eu? Bom, eu detesto despedidas quando não sou que estou partindo. Egoísta assim. Gosto de deixar saudade, não de senti-la. E aquele abraço de despedida que não foi dado? E o que foi dado, que gosto deixou? Amargo, certamente. Todo ano alguém vai embora. Todo ano alguém chega de mala e cuia. Esse estica-e-puxa uma hora vai acabar por partir alguma coisa aqui dentro. Não consigo pedir a ninguém que fique, apenas que mande um cartão postal de lugar nenhum. Notícias quem sabe, ou uma foto com uma dedicatória bonita. Espero que sintam saudade como eu sinto. Saudade traiçoeira essa. Espero até a volta também. É o jeito: esperar pra (não mais) ver.




Feliz ano novo.